Empresas brasileiras têm adotado cada vez mais devices de IoT (“internet of things”, em inglês) como recurso essencial no processo de transformação digital de suas atividades. Os objetivos principais são aumentar a eficiência da gestão e aumentar a produtividade, visando potencializar resultados, sobretudo em setores altamente competitivos como o agronegócio, indústria, saúde e logística.
Ao monitorar ativos e identificar falhas, padrões e tendências, a atuação destes ecossistemas de dispositivos conectados é decisiva no processo de tomada de decisão do administrador sobre estratégias de mercado, modelos comerciais e destino dos investimentos.
Segundo levantamento da International Data Corporation (IDC), companhias brasileiras investiram cerca de R$ 8,5 bilhões em IoT no ano passado – 17,6% acima do volume registrado em 2021.
A mesma consultoria avalia que, até 2026, este montante pode chegar a R$ 11,2 bilhões, impulsionado pela expansão da rede de 5G no território nacional. No período, por exemplo, as redes móveis privadas de alta velocidade deverão crescer mais de 35%.
Outro estudo, da Mobile Ecosystem Forum (MEF) realizado junto a 450 líderes empresariais brasileiros apontou que 50% das grandes corporações no País já contam com, ao menos, uma aplicação ativa em IoT. Além disso, 52% assumiram o desenvolvimento de uma segunda aplicação com essa tecnologia para ativação no curto prazo. Por fim, 80% das empresas disseram que pretendem investir na ampliação de suas arquiteturas de IoT existentes.
Mais rentabilidade
Muito deste interesse do mercado brasileiro com relação com a internet das coisas se deve à publicação do Plano Nacional de IoT (Decreto No. 9.854), em 2019. A medida foi fundamental para estabelecer um ambiente favorável ao desenvolvimento da tecnologia no País. Os objetivos principais deste documento são:
I – melhorar a qualidade de vida das pessoas e promover ganhos de eficiência nos serviços, por meio da implementação de soluções de IoT;
II – promover a capacitação profissional relacionada ao desenvolvimento de aplicações de IoT e a geração de empregos na economia digital;
III – incrementar a produtividade e fomentar a competitividade das empresas brasileiras desenvolvedoras de IoT, por meio da promoção de um ecossistema de inovação neste setor;
IV – buscar parcerias com os setores público e privado para a implementação da IoT; e
V – aumentar a integração do País no cenário internacional, por meio da participação em fóruns de padronização, da cooperação internacional em pesquisa, desenvolvimento e inovação e da internacionalização de soluções de IoT desenvolvidas no País.
Naquele mesmo ano, foi firmada uma parceria entre o Ministério da Economia do Brasil, o Governo do Estado de São Paulo e o Centre for the Forth Industrial Revolution – C4IR Brazil, do Fórum Econômico Mundial, para ajudar a remover as barreiras de acesso a “internet das coisas” junto às pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras.
A iniciativa produziu um protocolo de ações específicas endereçadas aos formuladores de políticas públicas para suportar os negócios neste processo de transição. Dentre elas, apoio tecnológico e financeiro, aumento da conscientização sobre IoT e a promoção de parcerias comerciais entre as empresas.
A estratégia foi aplicada inicialmente em 10 companhias dos setores aeronáutico e automotivo, sendo expandida posteriormente a outras 70 empresas brasileiras. Segundo o Banco Mundial, os resultados foram amplamente positivos:
- 21,6% registraram aumento da eficiência operacional;
- +192% de retorno sobre o investimento, em média;
- 80% de confirmação da continuidade da estratégia.
Ou seja: no final do dia, investir em infraestrutura de devices inteligentes e conectados resulta não apenas em ganho operacional, mas em um robusto retorno sobre investimento (ROI, em inglês).
A adoção de sensores e dispositivos que simplificam, aceleram e automatizam a dinâmica de trabalho e produção das empresas de médio e pequeno porte tem sido essencial para o seu alinhamento competitivo junto às grandes corporações, garantindo a lucratividade.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a modernização das PMEs é essencial para o crescimento do PIB global, haja visto que elas representam 90% das empresas de todo o mundo, responsáveis pela criação de oportunidades econômicas e mobilidade social, criando sete a cada dez empregos existentes no mundo.
Pelo mundo
A transformação empresarial pelo uso do IoT é notada também no âmbito global. Pesquisa recente da Forbes Insights com 700 executivos de todo o mundo mostrou que 60% das companhias expandiram seus negócios por conta do desenvolvimento de novas linhas de produtos e serviços e 36% consideram criá-las a curto e médio prazos.
Assim como no mercado nacional, o alargamento da cobertura 5G nos demais países é um dos motivos deste boom do IoT. A banda larga tem tornado possível o tráfego de dados obtidos pelos dispositivos em maior volume e muito mais velocidade, desbloqueando uma série de aplicações até então consideradas distantes da realidade.
O instituto de pesquisas e análises Juniper, da Inglaterra, prevê que as conexões de IoT com o 5G deverão superar os 116 milhões de interações em 2026 – crescimento exponencial de 1.100% em três anos, puxado pelas aplicações nos segmentos de healthcare e smart cities, que demandam sensoriamento de baixíssima latência.
Importante salientar ainda que a escalada empresarial do IoT tem como uma das razões também a flagrante redução no preço médio dos sensores nas últimas duas décadas, declinando de US$ 1,30 (2004) para US$ 0,38 (2020). O aumento do número de fornecedores que faz crescer a oferta e a otimização tecnológica têm barateado o custo de produção, tornando a tecnologia mais acessível.
Sustentabilidade empresarial
Ecossistemas de devices conectados e integrados aos negócios têm colaborado na diminuição do impacto das corporações no meio ambiente. Uma análise do Fórum Econômico Mundial sugere que 84% das 640 aplicações de IoT avaliadas atendem ou têm potencial de atender às metas de descarbonização da economia que estão presentes nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Dentre os usos mais recorrentes com esta finalidade estão:
- Gestão de vazamentos de água
O IoT permite uma proteção em tempo real contra prejuízos causados pelos vazamentos ou falhas nos sistemas de fornecimento de água. Sensores óticos e uma abordagem integrada podem evitar bilhões de dólares em desperdício e a própria repetição da crise hídrica de anos recentes; - Manutenção preditiva
Os dispositivos conectados às máquinas industriais fornecem dados que alimentam modelos de prevenção de eventos potencialmente danosos, como acidentes, quebras e necessidade de substituição de peças e componentes, evitando períodos de inatividade (downtime) não previstos dos equipamentos. Estudo da Deloitte sugere que, na média, a manutenção preditiva promove um aumento de 25% da produtividade, reduz o risco de paralisações das fábricas em 70% e corta em ¼ os custos com a manutenção normal. - Monitoramento ambiental
Instalados em tubulações, sistemas de circulação de ar e espaços utilizados por funcionários, estes devices podem identificar poluentes no ar ou na água, evitando contaminações e tornando os locais de trabalho não apenas mais limpos, como também seguros.
Estas soluções em IoT também possibilitam que as PMEs estejam alinhadas quanto aos padrões e requisitos da agenda ESG (Enviroment, Social and Governance) exigidos para acesso a linhas de financiamento públicos ou liberação de fundos em organizações privadas. Também aproxima as empresas do cumprimento efetivo das obrigações relacionadas ao impacto ambiental de suas atividades, bem como atende à expectativa crescente dos consumidores quanto a responsabilidade e transparência da atuação das organizações.
Dados geram melhores negócios
Mais do que promover o diálogo entre máquinas, o IoT aplicado nas empresas ajuda o gestor corporativo a entender como as operações estão fluindo – da fase de produção ao monitoramento dos produtos –, viabilizando melhorias ágeis no desempenho e na criação de oportunidades para crescimento e inovação.
No varejo, o uso de sensores inteligentes em câmeras de vídeos e outros recursos visuais têm permitido às companhias identificar o comportamento dos clientes diante de determinados produtos e serviços.
As organizações também estão descobrindo que o IoT pode colaborar no desenvolvimento de plataformas de negócio mais abrangentes. Estas companhias estão percebendo que podem ir muito além do fornecimento de produtos e serviços, agregando valor a toda cadeia e, por óbvio, elevando o faturamento.
Outra colaboração está no relacionamento com o cliente – ponto crítico da transformação digital da economia. Com o IoT, o nível de personalização do atendimento chegou a um patamar inédito da história, a partir de uma visão multidimensional gerada pelo fluxo de dados.
Esta percepção está refletida também na pesquisa da Forbes Insights: 56% das empresas estão investindo na tecnologia com esta finalidade e outros 42% conseguiram expandir sua capacidade de customizar a experiência do seu parceiro ou cliente.
O setor de aeroportos tem lançado mão do IoT com este approach. Os ecossistemas de sensores melhoram a experiência do cliente, identificando desde escadas rolantes quebradas a corredores de embarque superlotados, sugerindo soluções em tempo real ao administrador do terminal.
Portanto, a proposta de valor oferecida pelo IoT às corporações é ampla e das mais atraentes. Ao captar dados em tempo real sobre infraestruturas de produção e distribuição, conectar máquinas e potencializar a interface com os clientes, esta tecnologia tem permitido aos líderes empresariais uma oportunidade real transformação de seus negócios.
Assim, o impacto financeiro positivo resultante da adoção das novas tecnologias nesta Quarta Revolução Industrial precisa ser cada vez mais considerado. É a partir de um caixa mais robusto que tanto as grandes multinacionais, quanto as PMEs poderão contribuir significativamente para a urgente descarbonização de suas atividades – e da economia mundial como um todo.