Por Márcio Martin, vice-presidente da América Latina na green4T
Os impactos negativos da guerra na Ucrânia e da Covid na China levaram o setor de mineração brasileiro a fechar 2022 com queda de 26,3% no faturamento. Com a continuidade das incertezas geopolíticas, a expectativa para 2023 é de manutenção do desempenho do ano passado, na casa dos R$ 250 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM).
Mas a perspectiva de estabilidade no faturamento engana quem imagina que o setor esteja parado. De acordo com o ranking dos dez principais riscos e oportunidades em mineração e metais da EY, a preocupação com ESG segue no topo da lista das empresas, enquanto controle de custos e eficiência operacional ganharam relevância com as altas de preços recentes, o que deve levar as companhias a investirem mais em soluções nessas duas frentes.
Em ambos os casos, como aponta outro estudo da BDO, 2023: Near Future of Mining, grande parte da solução passa pela intensificação do uso de tecnologia. Nas estimativas da Future Market Insights (FMI), a taxa de crescimento anual composta dos investimentos do setor em mineração inteligente (smart mining), será de 11,1%, até 2032.
Em ESG, por exemplo, o âmbito dos projetos e a demanda por transparência estão aumentando. Isso vai exigir que as empresas desenvolvam ou adotem novas soluções para se tornarem mais sustentáveis.
Nos dois casos, soluções de IoT (internet das coisas, na sigla em inglês) e análise de dados terão papel chave no monitoramento do consumo, no planejamento de ações de redução de impactos e na construção de relatórios com informações que atestem os avanços em direção às metas de sustentabilidade e exigências públicas.
Exemplos de uso
Em minas de ponta, sensores wireless têm sido usados, por exemplo, para a coleta em tempo real de dados sobre parâmetros físico-químicos da água, como pH, oxigenação, condutividade elétrica, temperatura e turbidez. A partir deles, as empresas podem determinar com maior precisão o tratamento adequado, algo que até recentemente era muito difícil de ser feito.
Drones também têm sido usados para levantar informações que permitam avaliar o estado de bacias hidrográficas e florestas próximas. A partir de imagens aéreas, é possível contar o número de árvores em determinada área, o quanto estão perdendo ou ganhando de biomassa em dado período e rastrear espécies ameaçadas. São todas atividades muito caras, demoradas ou impossíveis de se fazer sem o uso de novas tecnologias digitais.
A melhora nos processos de controle de custo e a busca por maior eficiência operacional nas minas, outras duas prioridades do setor, também passam por mais investimentos em tecnologia.
Segundo a EY, em relação aos custos variáveis, uma das formas que tende a ser mais usada para se obter economias sustentáveis são os gêmeos digitais (digital twins). Um dos usos mais comuns dos gêmeos digitais é na manutenção preditiva de equipamentos, como escavadeiras, caminhões e esteiras. Sensores instalados nos equipamentos permitem antever quebras, evitar paradas inesperadas e programar os ajustes para o momento mais conveniente.
Mas os gêmeos digitais podem ser usados também na antecipação de cenários para a identificação de potenciais gargalos e a correção antecipada de rumos, garantindo assim maior eficiência, entre outros benefícios.
Ainda segundo o estudo da EY, para os custos que, provavelmente, permanecerão altos, abordagens mais inovadoras para gerenciar a variabilidade, incluindo modelagem aprimorada e gêmeos digitais, podem gerar ganhos de produtividade genuínos.
Todas essas soluções são catalisadoras de investimentos também na infraestrutura de TI que dá suporte a elas. O caráter remoto e crítico da atividade mineira, particularmente, tende a demandar soluções específicas, que permitam o processamento, a análise e o armazenamento de dados localmente, como Edge Computing, por exemplo. Por isso, é essencial contar serviços gerenciados de empresas especializadas e com capilaridade de atendimento para manter a operação com o mais alto nível de disponibilidade e segurança.
Um ponto importante trazido no mesmo relatório da EY é a recomendação às empresas do setor para a quebra de silos nos processos de transformação digital e inovação. Para isso, o documento aponta que uma estratégia mais integrada em toda a cadeia de valor aumentaria o ROI e ajudaria as mineradoras a enfrentar melhor os seus desafios mais complexos, incluindo o ESG e a produtividade.
Diante de tantas possibilidades de uso e benefícios decorrentes, fica claro como a tecnologia é uma força motriz capaz de revolucionar positivamente o setor de mineração trazendo ganhos visíveis tanto para as empresas que investem nessas inovações quanto para o meio ambiente com a decorrente diminuição do impacto ambiental causado.