Eletrificação do transporte público: planejamento como caminho para redução das emissões de gases e diminuição do impacto ambiental

Eletrificação do transporte público: planejamento como caminho para redução das emissões de gases e diminuição do impacto ambiental

*Por Roberto Speicys, CEO e cofundador da Scipopulis

São Paulo, 27 de setembro de 2022 – Como imaginar um futuro próximo livre de emissões de gases poluentes e com o mínimo de impacto ambiental possível? É difícil, mas não impossível.

Para iniciar esse raciocínio, é válido lembrarmos que o país tem, até 2030, a meta de diminuir em 43% suas taxas de emissões de gases de efeito estufa, em comparação com 2005 (ano base). Essa promessa foi feita em 2016 por meio do Acordo de Paris na Convenção de Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). Para além desse compromisso inicial, o Brasil também se responsabilizou por se tornar uma nação Carbono Neutro até 2060, conforme o relatório “Brasil Carbono Zero em 2060”.

Dito isso, é preciso traçar quais são os caminhos viáveis para alcançarmos o batimento dessas metas. É sabido que o segmento de transporte é a principal causa de emissão em todas as cidades brasileiras e, para avançarmos, é necessário a adoção de algumas políticas que levem em conta o cenário trazido pela pandemia de Covid-19 de recuperação econômica global com vistas para um horizonte com carbono neutro.

Já é comprovado que a mobilidade elétrica é uma solução palpável para obstáculos econômicos e de meio ambiente no âmbito global, e seus benefícios transcendem a questão da melhora de experiência do usuário de transporte público, conseguindo impactar positivamente até mesmo a qualidade do ar nas cidades em que esse modelo é implementado.

Pensando nisso, a Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME), em parceria com a consultoria Addax, acaba de publicar o estudo “Avaliação de Cenários Prospectivos para Eletrificação de Ônibus no Brasil” que traz ser uma referência inicial de como as políticas nacionais podem interferir no processo de eletrificação das frotas.

O documento demonstra, por exemplo, como as políticas que focam na redução do custo inicial de aquisição dos veículos e infraestruturas de apoio, como pontos de recarga, são ótimos estímulos à transição. Isso ocorre porque o investimento inicial necessário é um dos principais obstáculos para a transformação do cenário tradicional, pois os custos de operação e do ciclo de vida dos veículos elétricos já são comprovadamente menores do que os de sistemas com veículos à combustão.

O que precisa ser feito?

Para que a hipótese se torne uma realidade, o Brasil precisa avançar na disponibilidade de frota elétrica do transporte público. A longo prazo, ela vai necessitar ser totalmente implementada para conquistarmos todas as metas previstas.

Para se ter uma ideia e com o objetivo de ajudar a tangibilizar o cenário que temos hoje, trago alguns dados relacionados à cidade de São Paulo. Com três meses até o encerramento de 2022, temos apenas 1,6% de frota eletrificada – já deveríamos ter cerca de 15% a 25%.

Em 2016 – ano base estabelecido para as metas de emissões do transporte público para a cidade de SP -, a frota total da cidade contava com mais de 14 mil veículos, enquanto o quantitativo atual circulante é de 13.425, representando cerca de 10% a menos. Em termos de eletrificação, não houve muito progresso, já que evoluímos apenas 0,3% até agora. O pequeno aumento é decorrente da redução do total de ônibus nas ruas, e aponta para uma questão importante que mostra a necessidade de uma mudança radical no que já foi feito para que possamos seguir com o cumprimento das metas.

Para termos uma ideia, dois anos depois da assinatura dos novos contratos entre os operadores de transporte, temos apenas 18 ônibus elétricos operando na cidade. A estimativa levantada pela Scipopulis é de que, até o momento, foram investidos cerca de R$ 40 milhões de um total de R$ 42 bilhões necessários para eletrificar toda a frota da cidade.

Em que se pese o impacto da pandemia de Covid-19 no transporte público, se acelerarmos 10 vezes o ritmo que tivemos até aqui pelos próximos 16 anos, ainda teremos apenas 1.440 ônibus elétricos circulando pela cidade – o que representaria apenas cerca de 10% da frota eletrificada em 2038.

Benefícios

Ainda com base no estudo realizado pela PNME, são retratados diferentes cenários hipotéticos em que são levados em conta todos os fatores envolvidos para uma mudança real do cenário de transportes urbanos à combustão para o 100% elétrico.

Em um dos exemplos comentados no documento, citam a eletrificação total da frota nacional no “Cenário Regulatório Nacional”, que prevê esse movimento por completo até 2045 e garantindo um benefício social de R$ 290 bilhões. Aqui, por exemplo, imagina-se um panorama que parte de uma premissa de modelo regulatório federal impositivo rígido, no qual toda a frota nacional deverá ser eletrificada, o que faria com que a produção de ônibus a diesel fosse zerada em 2036 no país e, assim, os municípios seriam obrigados a adotar o ônibus elétrico de forma a reduzir 100% dos poluentes.

Os benefícios não se restringiriam apenas aos valores, mas também iriam reverberar em melhores serviços aos usuários, tarifas públicas mais acessíveis, maior qualidade do ar, garantindo cidades mais sustentáveis e parceiras do meio ambiente.