Em junho passado, autoridades irlandesas emitiram um alerta quanto ao risco de apagões de energia no país caso o aumento expressivo do consumo de eletricidade por parte dos data centers locais não fosse controlado. Com 70 parques de processamento de dados instalados, o setor na Irlanda já abocanha 11% de todo o grid gerado, um percentual que deve chegar a 29% até 2028, segundo pesquisa da EirGrid, a operadora do sistema elétrico local.
O episódio é simbólico. Evidencia o crescimento do setor de data centers na Europa e em todo mundo para suportar negócios, empresas e pessoas nesta nova era digital. Ele traz à tona também a questão do consumo de eletricidade dos centros de processamento de dados, que podem ser melhor gerenciados do ponto de vista dos gastos energéticos, sem prejuízo à performance e com a devida diminuição de seu impacto no meio ambiente.
Mais do que o desafio, há uma excelente oportunidade a ser aproveitada por toda a indústria de TI e demais setores relacionados no sentido do alinhamento às práticas ESG (Enviroment, Social and Governance). Atuar com transparência, de maneira firme na busca pela redução da pegada de carbono das infraestruturas e da mitigação dos reflexos socioambientais das atividades. Para tanto, é preciso empreender uma jornada de eficiência energética, com a implementação de um conjunto de medidas operacionais que possam garantir faturamento em ascensão com respeito absoluto ao enviroment natural.
Iniciar este processo implicará na revogação de antigas crenças por parte dos líderes de infraestrutura e operações (I&O) das empresas em favor de novas soluções que atuem de forma mais assertiva sobre o tema. Este é um direcionamento que, aliás, deve ser tomado com rapidez: o mundo econômico passará a tolerar cada vez menos as companhias que não mantenham sob controle as emissões de carbono em toda a sua cadeia de produção, em razão do impacto disso no aquecimento global.
O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC 2021, da ONU, apresentado em agosto, reforça este posicionamento. O estudo revelou que os níveis de gás carbônico (CO2) na atmosfera em 2019 foram os maiores em 2 milhões de anos. Já a concentração de gás metano (CH4) foi recorde em relação aos últimos 800 mil anos. Em ambos os casos, a atividade humana foi apontada pelos pesquisadores como a responsável direta por tais resultados, que assombraram as salas de CEOs e presidentes de companhias mundo afora.
Portanto, é hora de agir. No que tange ao setor de TI, o foco principal é potencializar a eficiência energética dos data centers e de toda a infraestrutura a eles associada. Segundo estimativa da agência de energia da Dinamarca, o crescimento previsto dos gastos com eletricidade nos centros de dados e ativos de telecomunicação pode chegar a 15% do consumo global de energia elétrica em apenas uma década, o que torna mandatória a busca por melhorias na gestão deste recurso, bem como estimular fontes renováveis e limpas, para que possam ser utilizadas já no curto prazo.
Para entender o caso irlandês
A Irlanda é, hoje, o maior hub de processamento de dados da Europa. Além das sete dezenas de data centers já em operação, que disponibilizam 900 MW de capacidade, há outros 8 em construção nos arredores da capital, Dublin. As maiores tech companies do mundo já contam com plantas para processamento em hiperescala instaladas no país, que tem no setor um importante gerador de riquezas: em 2020, a exportação de serviços de TI despejou € 132 bilhões na economia irlandesa (Fonte: The Irish Times). Para fomentar ainda mais os negócios, o governo local liberou € 3 bilhões para investimentos em infraestrutura de conectividade: antenas e cabeamento por fibra ótica, por exemplo, para entregar mais velocidade e qualidade na transmissão dos dados.
Há de se salientar ainda uma vantagem competitiva dos irlandeses do ponto de vista geográfico. O país é vizinho da Inglaterra, o seu maior cliente na aquisição de capacidade de processamento oferecida pelos data centers. A carteira é expandida também por empresas da França, Alemanha e países escandinavos. A localização no mapa favorece ainda na captação de clientes do outro lado do Oceano Atlântico, onde companhias dos Estados Unidos, que são atendidas por extensos cabos submarinos.
O desafio ambiental atrelado a este fenômeno comercial irlandês tem feito as autoridades locais se mexerem. Até 2028, o governo da Irlanda pretende investir € 1,3 bilhão no fornecimento de energia limpa – principalmente eólica – para atender aos centros de dados.
É um começo. Contudo, conforme aponta um estudo da Irish Academy of Engineering, para suportar o acelerado crescimento do setor de data centers no país, será necessário uma superinfraestrutura avaliada em € 9 bilhões. Este novo sistema que adicionaria ainda 1,5 milhões de toneladas de carbono no meio ambiente até 2030 – 13% a mais do que o volume do sistema elétrico atual – o que reforça a importância de se utilizar a energia de forma eficiente e investir em fontes renováveis. Trata-se de uma necessidade emergencial não apenas da Irlanda, mas de todos os países que devem superar estes desafios com políticas públicas que combinem inovação, criatividade e resiliência.
Os 5 passos para a jornada de eficiência energética do data center
A redução do impacto ambiental pretendida pelo setor vai exigir dar mais eficiência a toda infraestrutura de TI. O primeiro passo neste sentido é um assessment completo para a tomada de uma consciência situacional: compreender a real condição do data center em termos de gastos operacionais, performance e qualidade dos equipamentos instalados. É a partir dessa análise criteriosa de todo o ambiente crítico que será possível planejar o melhor caminho para o ajuste e/ou transformação do centro de processamento.
Este movimento inicial é importante para detectar também a capacidade computacional ociosa do data center – esteja ele “em casa” ou na nuvem. Pesquisa da consultoria israelense Granulate com 100 líderes de I&O em todo o mundo apontou que mais da metade deles utiliza somente entre 20% e 40% da capacidade contratada de suas clouds. Um despesa média da ordem de US$ 1 milhão/ano, com prejuízo na conta ambiental, já que estes servidores permanecem consumindo energia elétrica mesmo subutilizados.
É com este mapeamento dos custos nas mãos que o CIO pode traçar um plano mais assertivo, visando elevar a eficiência energética de sua infra de processamento com medidas práticas que incluem melhorias na performance do DC.
A seguir, elaboramos os 5 passos essenciais para a jornada de eficiência energética das empresas, com intervenções lógicas e físicas que podem gerar uma redução de até 60% do consumo de energia dos data centers.
1. Otimização do data center – Implica em elevar a densidade computacional da estrutura, potencializando o uso dos servidores dentro dos racks. Isso diminui a quantidade de equipamentos instalados, reduzindo o volume de energia necessário para a operação e resfriamento dos ambientes, que passam a ser mais compactos, ocupando menos espaço físico e sem prejuízo à capacidade de processamento.
2. Redução do PUE (Power Usage Effectiveness) – Implementar soluções desenhadas para oferecer uma relação entre o consumo energético total da empresa vs. consumo do TI que fique próximo do índice 1,0, o que classificaria o data center como sustentável sob este critério;
3. Revisão do ciclo de renovação – Encurtar os prazos de atualização do CPU conforme a disponibilidade orçamentária, visando maximizar a performance a partir de equipamentos e programas mais modernos. Vale também considerar a implementação de planos de prolongamento da vida útil de peças e componentes, visando extrair a máxima produtividade mesmo após o fim da garantia dada pelo fabricante;
4. Transição energética – Busca e uso de fontes de energia renováveis e limpas para o funcionamento dos data centers. Este recurso pode ser adquirido de fornecedores certificados ou por meio de “fazendas” geradoras de energia solar ou eólica, por exemplo, associadas ao próprio data center da companhia;
5. Virtualização e gerenciamento software-defined – Gestão da infraestrutura de TI por meio de máquinas virtuais (VMs) e softwares como o DCIM, que unifica e agiliza o processo, permitindo realizar um maior controle do consumo de energia dos racks e equipamentos.
Saiba mais: DCIM – Como obter uma gestão mais eficiente da infraestrutura de TI – Episódio 11
Eólica, solar ou hidrelétrica?
A transição energética dos data centers e a elevação da preocupação quanto ao controle dos gastos relacionados às infraestruturas de processamento das empresas são percepções cada vez mais em alta junto aos CEOs e CIOs. Isso porque os custos com refrigeração e fornecimento de eletricidade se tornaram tão relevantes que encontrar fontes alternativas virou prioridade.
Neste contexto, um estudo realizado junto a 400 líderes de I&O em todo mundo, “Data Centers & The Enviroment – 2021 Report on the state of the green data center“, publicado pela empresa californiana Supermicro, revelou uma disparada no nível de atenção dos executivos para temas relacionados ao impacto ambiental e ao índice PUE (Power Usage Effectiveness) de suas infraestruturas de TI, conforme demonstrado na comparação 2020/2019 a seguir:
A maioria dos principais consumidores de processamento de dados do mundo, a maior parte deles já atua de forma efetiva na busca de data centers mais “verdes” – seja na aquisição de excedentes de energia limpa para uso de suas infraestruturas, seja propriamente na construção de parques particulares já projetados para serem 100% carbon free.
Quando executado adequadamente, o “green data center” pode economizar recursos financeiros e, ao mesmo tempo, reduzir sua pegada de carbono. Independentemente do tamanho da infraestrutura crítica, o resultado positivo é refletido na sensível diminuição dos gastos com OPEX e CAPEX, além de menor impacto no meio ambiente.
Sob a ótica mercadológica, o segmento dos data centers verdes também é uma oportunidade financeira: até 2026, deve crescer 19,7% ao ano, alcançando a cifra de US$ 142,8 bilhões em investimentos, segundo pesquisa da Research&Markets.com
Carta na manga
A jornada de eficiência energética das infraestruturas de TI das empresas passa também por agregar elementos ao processo que sejam capazes de dar mais agilidade, autonomia e independência ao processamento e transmissão dos dados.
O uso de novos recursos computacionais como o edge computing, por exemplo, pode colaborar na redução das emissões de carbono. À medida que o processamento é realizado na borda, inibe a necessidade do tráfego de grandes quantidades de workloads, diminuindo o consumo energético das infraestruturas. Além disso, reduz-se também a demanda por extensas linhas de transmissão, já que as requisições são atendidas e respondidas ali mesmo, bem perto da fonte geradora do dado.
Com a operação acontecendo dentro do rack edge, é possível ainda se abater percentual considerável do gasto energético de toda a infraestrutura de TI – algo que soa especialmente atraente aos CIOs. Outras tecnologias, como o IoT, a inteligência artificial e o machine learning também podem contribuir firmemente nesta cruzada contra a pegada de carbono das empresas do setor, já que atuam de forma direta na melhoria da gestão dos ambientes críticos, evitando desperdícios, potencializando o uso dos equipamentos e corrigindo rotinas que possam levar a falhas estruturais que sobrecarreguem o sistema elétrico.
Um desafio do futuro no presente
Dar início a essa transformação da força motriz dos data centers é também uma oportunidade valiosa de novos negócios para a indústria de TI. Contudo, esta é uma caminhada longa e que exige boa companhia para ser bem-sucedida. Assim, a missão reservada aos líderes de I&O é encontrar os parceiros certos, que apresentem credenciais sólidas, expertise e capacidade para liderar os planos de ações que tornarão os data centers energeticamente mais eficientes, produtivas e de menor impacto ambiental.
A green4T conta com um portfólio de soluções completo para “descarbonizar” as infraestruturas de TI, implantadas por equipes especializadas e aptas a conduzir os clientes nesta inadiável jornada de eficiência energética. Uma abordagem end to end para permitir que os executivos se concentrem no que mais importa: o crescimento sustentável dos seus negócios.
Nosso papel é ajudar a absorver a questão da criticidade energética dos data centers, distensionando a preocupação número 1 dos CEOs atualmente – o risco representado pelas mudanças climáticas para o crescimento de suas companhias –, conforme demonstrado na pesquisa “The ESG imperative for technology companies”, realizada pela KPMG em 2020.
Portanto, é neste caminho sem volta da economia digital que toda a indústria e setor de serviços de TI precisam encontrar alternativas que mitiguem o impacto de suas atividades e de seus clientes em prol não apenas do meio ambiente, mas da própria longevidade das empresas. Uma cruzada fundamental, que combina esforço financeiro, olhar corajoso para a inovação e sentido de urgência, a fim de que os primeiros passos possam ser dados agora visando resultados no médio e longo prazo. O planeta e os negócios agradecem.