Com a consolidação da pauta sustentável na agenda econômica mundial, um dos setores produtivos mais rentáveis e tradicionais – o de óleo e gás – está buscando a sua reinvenção a fim de garantir um espaço no futuro que tende a pertencer às fontes renováveis de energia. Uma reformulação que passa necessariamente pela implementação maciça de tecnologia.
Inteligência artificial, internet das coisas, computação de borda, aprendizado de máquina, cloud computing e outras tantas abordagens tecnológicas vêm ganhando espaço no dia a dia das grandes companhias do setor, graças à importância que têm na busca pela máxima eficiência, produtividade e na proteção ao meio ambiente. É a Transformação Digital modificando os processos produtivos e de gestão de uma categoria industrial trilionária.
Produtividade
Embora se reconheçam aportes financeiros elevados em tecnologia no âmbito operacional das empresas petrolíferas, é na gestão dos campos e plataformas de extração que o processamento e análise inteligente de dados têm se tornado valiosos.
Em 2017, um estudo da consultoria McKinsey – *Why oil and gas companies must act on analytics* – já indicava que investimentos em análise de dados avançada poderiam ser a chave para um ganho de performance das empresas. O relatório usou como base o desempenho de uma plataforma de petróleo no Mar do Norte, cuja produção variava em até 12% conforme a equipe de trabalho que estivesse no comando. O motivo do gap se baseava na limitação das tripulações – por melhor treinadas que estivessem – em lidar com um sistema tão complexo quanto uma estrutura offshore.
Com mais de 30 mil sensores monitorando desde os equipamentos e máquinas às condições climáticas, oceânicas e geológicas, a plataforma petrolífera é uma Babel de geração de dados. Este Big Data municia cerca de 200 variáveis que precisam ser gerenciadas para se alcançar a capacidade produtiva máxima. Os pesquisadores descobriram, contudo, que destas duas centenas de cenários, os funcionários consideravam apenas 50 como essenciais para o pleno funcionamento da plataforma – com apenas 10 a 12 delas sendo efetivamente operadas. O resultado é fácil de imaginar: perda de produtividade e prejuízos enormes à companhia.
O investimento em infraestruturas digitais é a solução para casos como este relatado pela McKinsey. Projetos customizados, muitas vezes elaborados a partir do retrofit dos ambientes de TI já existentes, permitirão uma gestão muito mais eficiente das linhas de produção, além de reduzirem o risco de falhas e downtimes não programados do sistema operacional, o que paralisaria a plataforma por completo.
Ainda segundo a consultoria, a aplicação correta do processamento e análise de dados para colaborar na tomada de decisão dos gestores – visando a alta performance e mais eficiência no consumo de recursos – pode gerar um retorno superior entre 30 e 50 vezes sobre o valor inicial realizado.
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Na esfera ambiental, a Transformação Digital do setor pode colaborar para o cumprimento de diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estipulados pela ONU. No que se refere a proteção do meio ambiente, a adoção de computação de borda (edge) e de sensores conectados à rede (IoT) – que colaborem na redução do desperdício de recursos, do consumo energético e da emissão de gases poluentes – já é uma estratégia que vem sendo adotada pelos principais players desta indústria.
A tecnologia tem ajudado, por exemplo, a diminuir a utilização de água doce no processo de extração e separação do petróleo. Embora grande parte deste volume seja reciclado, ainda assim o setor consome quantidades gigantescas de água, um recurso sensível e sob risco de escassez no planeta.
O estímulo governamental também tem sido importante nesta missão sustentável. O governo do Reino Unido, por meio de sua agência IETF (Industrial Energy Transformation Fund), tem sido um dos maiores investidores para o desenvolvimento de tecnologias que ajudem as grandes corporações a reduzirem suas emissões de gases poluentes. Em 2018, a instituição anunciou a criação de um fundo de 315 milhões de libras para este fim, com a expectativa de reduzir em cerca de 2 milhões de toneladas as emissões industriais entre 2028 e 2032.
Sem volta
A aceleração digital da indústria de óleo e gás é um caminho sem retorno. Na edição 2020 do Boletim de Conjuntura do Setor Energético, publicado pela FGV Energia, especialistas afirmaram que a digitalização é uma **prioridade estratégica e decisiva** para as empresas que queiram permanecer no mercado. O documento aponta o Big Data, o IoT e a Inteligência Artificial como as tecnologias essenciais para, por exemplo, “aumentar a precisão da busca de novos reservatórios, antecipar a necessidade de manutenção e troca de equipamentos e reduzir a quantidade de pessoas em atividades de alto risco.”
[**Soluções em IoT?**](http://bit.ly/3kLv1qB)Um dos exemplos de aplicação tecnológica na produção de óleo e gás pode ser verificado no processo de perfuração dos poços. A conexão dos tubos – uma tarefa com elevada margem para acidentes graves e, até então, realizada por funcionários humanos – agora já pode ser feita por robôs. A mudança não só tornou o trabalho mais seguro, como também mais ágil e eficiente.
A Inteligência Artificial também tem sido cada vez mais utilizada para prever tendências, automatizar processos, melhorar o desempenho e dar mais retorno financeiro à operação. Essa tecnologia tem colaborado ainda na exploração dos recursos naturais, mapeando e identificando depósitos subterrâneos de petróleo e alertando sobre eventuais falhas nos equipamentos.
Por fim, algoritmos foram desenvolvidos e já são utilizados para prever acidentes com a postão nas tubulações de gás e controlar a quantidade de partículas de óleo liberadas no mar durante o processo de extração submarina.
Esse aumento no volume de dados gerado pelo emprego do AI e do IoT tem levado o setor a buscar o cloud computing para melhorar o processamento e armazenamento de dados das empresas.
Para os especialistas, a Transformação Digital da indústria de óleo e gás tende a se intensificar nos próximos anos, gerando inovações ainda mais surpreendentes, como plataformas marítimas totalmente autônomas, operadas de dentro de centros de comando e controle há milhares de quilômetros de distância. Um futuro promissor que coloca a tecnologia como o combustível vital de um setor que se reinventa para manter o seu protagonismo ainda por muitos e muitos anos.