A era digital e a agenda ambiental têm exercido uma forte postão sobre a indústria de TI. Se por um lado, empresas e organizações clamam por mais capacidade dos data centers – em razão do aumento exponencial da geração de dados –, por outro, ambientalistas têm observado mais atentamente como o setor vem buscando reduzir a sua pegada de carbono.
Portanto, ser mais eficiente e mais “verde” é a ordem do dia para quem vive de processar dados.
Levantamento recente da ONG Greenpeace revela que a indústria de TI consome cerca de 7% da energia elétrica produzida no planeta. Outro dado indica que o setor responde também por 1,4% das emissões de gases do efeito estufa. O índice pode ser considerado baixo, mas cabe um alerta.
Se na comparação entre setores, um voo transatlântico ida e volta gera carbono equivalente a 50 anos de uso de um smartphone, é verdade também que apenas 10% da população mundial atravessa os oceanos de avião. Enquanto 80% das pessoas no planeta usam um telefone celular inteligente todos os dias.
A diferença na pegada de carbono ainda é grande, mas vale destacar que a digitalização da economia é um fenômeno irrefreável e de crescimento acelerado. Por isso, o alerta é válido.
O papel da indústria de TI é central neste momento. É a partir dela que as inovações e novas tecnologias serão suportadas, beneficiando os negócios. É das infraestruturas de TI que também extrairá a inteligência de dados necessária para a preservação do meio ambiente, a partir da maior produtividade de setores como a indústria e a agricultura.
Apesar do seu protagonismo, o próprio segmento precisa se tornar mais eficiente e sustentável. Tal e qual já fazem alguns gigantes da tecnologia, a estratégia ideal é investir em energia limpa para a manutenção dos seus serviços.
Para corroborar com esta visão, a companhia sueca Ericsson divulgou uma pesquisa em 2018 que afirmava ser possível reduzir a pegada de carbono da indústria de TI em 80% caso toda a energia dos data centers fosse proveniente de fontes renováveis.
Soluções e iniciativas
Algumas companhias do setor já têm realizado iniciativas interessantes na resolução deste problema. Na Finlândia, o data center operado pelo maior site de buscas do mundo é refrigerado utilizando quase nada de energia elétrica. Sediado em uma antiga fábrica de papel do século passado, o ambiente utiliza a água gelada de um braço de mar, vizinho a instalação para resfriar as suas máquinas.
Perto dali, na Noruega, uma antiga mina desativada se tornou um dos maiores data centers verdes da Europa. Com 120 mil m², o Lefdal Mine Data Center guarda centenas de containers de processamento de dados a 100 metros de profundidade. E toda essa grandiosa infraestrutura é abastecida somente com energia renovável (hidroelétrica).
Na província italiana de Pavia, o moderno Green Data Center – pertencente a companhia de óleo e gás Eni – foi construído com foco total na sustentabilidade. A energia consumida é toda produzida em painéis solares instalados ao lado do centro de dados e a refrigeração utiliza apenas o vento frio do exterior, que sopra durante quase o ano todo.
Eficiência verde
A jornada de um data center em direção à TI Verde pode ser dividida em três etapas:
1) Ações iniciais:
Avaliação criteriosa das estruturas existentes – para avaliar potenciais de melhora, ativos e processos – e planejamento inteligente de mudanças. Inclui ações em:
a) Cultura e políticas
> Treinamentos e campanhas contínuas para a disseminação de ações, metas e esclarecimentos sobre a conformidade ambiental;
> Estabelecimento de metas para as equipes/setores que visem o aprimoramento constante dos padrões ambientais corporativos, promovendo o negócio com sustentabilidade;
> Optar por fornecedores comprometidos com ações sustentáveis e que agreguem este valor em suas ofertas;
b) Consumo de energia
> Avaliar a substituição de equipamentos por modelos mais modernos, considerando os custos e a vida útil, prezando pela maior eficiência na redução da demanda por eletricidade e aproveitando o seu ciclo de renovação;
> Virtualizar todo o parque computacional, reduzindo a geração de calor e o impacto do consumo elétrico;
> Implementar o uso de tecnologias como containers para se extrair o máximo de eficiência dos ambientes virtuais;
> Investir no uso de energia limpa, como a solar e a eólica – se possível, local ou por meio de contratação de fornecimento por parques de geração de energia renovável.
c) Descarte de materiais
> Estabelecer política e ações rigorosas para o tratamento e descarte adequado de materiais como: baterias, toners, tintas, lâmpadas de mercúrio e monitores CRT, óleo queimado, resíduos tóxicos gerados por limpeza de equipamentos etc.
> No que tange aos rejeitos eletrônicos, é possível seguir algumas orientações para a reciclagem dos ativos em fim de vida, respeitando todas as leis e regulamentações do setor através de processos seguros e confiáveis ecologicamente corretos como e-Stewards®
> Observar rigorosamente o Plano Nacional de Resíduos Sólido, LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010, em especial Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), com o objetivo de cumprir regulamentação Nacional e evitar danos à saúde humana ou ao meio ambiente.
2) Aprimoramentos
> Evitar o uso de solventes ou derivados de petróleo, detergentes industriais, dentre outros materiais não biodegradáveis, optar por soluções mais inteligentes e menor potencial de agressão ambiental, se possível; contratar empresa especializada que já implemente o uso de produtos de limpeza biodegradáveis.
> Incentivar e promover tecnologias de VDI (Virtual Desktop Infrastructure), PCoIP, SaaS, que reduzem consumo elétrico e geração de calor, também aumentar o trabalho remoto e uso de videoconferências (evitar viagens) contribuindo para redução de CO2.
> Ao renovar o parque computacional, fazer a opção por equipamentos com chassis e subsistemas que permitam o aprimoramento modular de maneira simples, sem prejuízo de desempenho, e a cada substituição com base no ciclo de vida, sempre se tenha aumento de eficiência energética com menor geração de calor ou maior facilidade de resfriamento.
> Buscar certificações com selo verde como, por exemplo: R2:2013 (chamada de certificação de reciclagem responsável), ISSO 14001:2015 (atender suas necessidades socioeconômicas em equilíbrio com a proteção do meio ambiente).
> Tornar aplicações e ofertas de serviços mais eficientes mitigando o aumento de recursos e com isso reduzindo a demanda de energia, alocação de espaço etc.
3) Novos Investimentos
> Quando viável, estabelecer uma estrutura para coleta e armazenamento temporário materiais eletrônicos descartados (e-lixo), que será destinado aos centros de reciclagem especializados com toda a responsabilidade, seguindo os protocolos e regulamentações.
> Planejar retrofit e/ou arquitetura que promova maior eficiência na dissipação de calor ou refrigeração de equipamentos / ambientes diminuindo demanda elétrica.
> Investir em programas de compensação ambiental, visando contrabalancear os impactos ambientais causados pelo data center, bem como procurar fornecedores de serviços, principalmente de nuvem, que já tenham programas avançados nesta direção.
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A busca por sustentabilidade do setor de TI traz oportunidades não só a empresas que investem em energia limpa, mas também a países capazes de produzi-la.
Dentre as 195 nações signatárias do Acordo de Paris (2015), uma delas em específico é um case pronto para acontecer em termos de produção de energia renovável. Hoje, este país já cobre 63% de seu consumo energético com as suas hidrelétricas; recebe mais de 2.200 horas de luz solar por ano – embora só use 1,4% deste potencial –; e tem regiões onde os ventos sopram 365 dias, um enorme potencial eólico onshore de 500 GW/ano – e de outros 700 GW/ano, se considerada a exploração eólica marítima. O país em questão é o Brasil.
Por ser tropical, o País não chega a ser o destino mais procurado para a construção de mega data centers, como acontece no norte da Europa, Groenlândia e Rússia, por exemplo. No entanto, há um outro ponto de atração.
Poucas nações do mundo contam com tamanho potencial – ainda inexplorado – de produção de energia de fontes renováveis. Insolação permanente, extenso litoral, ventos constantes e recursos naturais generosos para a produção de biocombustíveis, por exemplo, a colocam como uma espécie de Eldorado para companhias que desejam agregar valor em suas operações a partir do selo verde por uso de energia limpa.
Fato, os investimentos nesta área têm crescido no Brasil. Em 2019, segundo dados da Bloomberg, cerca de US$ 6,5 bilhões foram aplicados na produção de energia renovável em território nacional – uma alta de 74% em relação ao ano anterior. A capacidade instalada para este fim no País, em 2018, era de 135,6 MW – a terceira maior, atrás dos Estados Unidos (2ª) e da China (1ª).
Estes indicadores revelam que a disponibilidade de energia limpa no Brasil deve crescer consideravelmente nos próximos anos, tornando-se uma imensa oportunidade para companhias nacionais e multinacionais. Contudo, é necessário se fazer a lição de casa para poder aproveitar plenamente esta oferta.
Investir em eficiência energética de infraestruturas de TI, na economia circular e reciclagem de materiais, na redução dos níveis de emissão de gases poluentes, na diminuição do consumo de eletricidade e da pegada de carbono são deveres de um setor que se pretende inserido nesta nova ordem mundial, onde máquinas inteligentes ajudam a produzir mais sem que, para isso, consumam todo o planeta.