A internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) vem recebendo atenção extra da mídia com a chegada do 5G ao Brasil e despertando uma nova onda de interesse no meio corporativo. Estudo recente da consultoria IDC, mostra que os investimentos das empresas brasileiras em IoT vão crescer 17,6% em 2022, na comparação com 2021, chegando a US$ 1,6 bilhão. O movimento inclui tanto empresas iniciantes quanto empresas que já têm projetos em andamento. Para as que estão aderindo agora, porém, aprender com experiências pioneiras é importante para evitar o desperdício de recursos e aproveitar todo o potencial da tecnologia.
Quando o assunto é IoT, é importante frisar que nem todos os setores estão no mesmo patamar de desenvolvimento. De modo geral, a tecnologia atingiu o pico de expectativas infladas da curva de Hype da Gartner, criada para medir o grau de maturidade de novas tecnologias, entre 2012 e 2015. Foi um período de grande foco principalmente em produtos voltados ao consumidor final. Mas foi só a partir de 2018 que as indústrias e negócios B2B começaram a desenvolver de forma mais consistente casos de uso de IoT, em atividades como monitoramento de equipamentos industriais, produção de energia e micromobilidade (bicicletas, patinetes elétricos e outros veículos similares de aluguel).
O que se sabe hoje sobre o assunto é resultado, em geral, do estudo dos casos desenvolvidos durante esse período, em diferentes setores. Veja a seguir quais são os oito erros mais comuns, na visão de especialistas, na implantação de projetos de IoT. E como evitá-los.
1. IoT por quê? E para quê?
Um dos erros mais comuns é a adoção da tecnologia no embalo do hype, sem um motivo claro e uma estratégia que justifique o investimento. Antes de mais nada, é preciso saber qual problema se quer resolver e, em seguida, identificar qual será o valor gerado para a empresa e/ou para os clientes. Redução de custos? De riscos? Uma nova linha de receita? Ou uma forma de fidelização dos clientes? Que tipo de informação nova o IoT vai trazer? O que será possível fazer com ela? Com isso, é possível calcular se o custo compensa.
2. “A gente faz em casa” (falta de experiência técnica)
Um dos principais erros cometidos pelas empresas na hora de implantar projetos de IoT é subestimar a complexidade envolvida no processo. Conceitualmente, a tecnologia é simples. Mas sua adoção, não prática, não é. Não por acaso, são raros os casos de projetos feitos dentro de casa bem sucedidos.
Projetos de IoT exigem uma gama ampla de conhecimentos técnicos distintos e uma liderança capaz de alinhar e coordenar todos os esforços das equipes envolvidas, garantindo que todos estejam na mesma página, cumprindo prazos e seguindo padrões pré-estabelecidos.
Entre as questões a se considerar estão a segurança online, o design dos dispositivos, o papel de cada um deles no sistema, o uso de energia, protocolos de conectividade, a interface digital e a integração de cada uma das partes ao todo. Uma falha em um dos componentes desse complexo sistema pode comprometer todo o resultado final.
Por isso, é importante conversar desde a concepção de uma nova solução de IoT com empresas experientes, capazes de entregar soluções completas, end-to-end, e agnósticas, que irão usar as melhores tecnologias para cada caso. Projetos na área demandam tanto colaboração interna, quanto externa.
3. Visão limitada dos efeitos sistêmico
É comum a percepção de que um projeto de IoT se limita às áreas de TI, desenvolvimento de produto e engenharia. Trata-se, porém, de uma percepção equivocada. Projetos de IoT bem sucedidos têm potencial para transformar a estrutura e o modelo de negócios de uma empresa.
Ao vender um serviço de conectividade atrelado a um produto, por exemplo, a empresa precisa garantir que suas equipes de logística estejam preparadas para monitorar e fazer manutenção na infraestrutura de IoT, substituindo peças ou equipamentos antes de um downtime (interrupção do serviço).
Da mesma forma, a área de atendimento aos clientes precisa saber como responder a uma série de novas dúvidas potenciais dos clientes. Sem contar que, com as informações captadas pelos dispositivos do sistema, a empresa pode desenvolver propostas de valor e modelos de negócio inteiramente novos. O segredo, aqui, é planejar mapeando todos os possíveis impactos do projeto de IoT, dentro e fora da empresa.
4. Solução nota 10, confiabilidade 0
Uma vez colocadas em funcionamento, soluções de IoT podem gerar prejuízos financeiros consideráveis em caso de falhas. Por isso, não basta que sejam incríveis, precisam ser também confiáveis. Basear uma solução de IoT apenas em conexões na nuvem (cloud), por exemplo, pode ser um grande equívoco. Se por algum motivo o sistema sair do ar, ou o sinal de internet for interrompido, há um blackout do serviço.
É o que faz com que o modelo, apesar de vantagens como configuração simplificada e atualização constante de software, seja visto com ressalvas no mercado. O ideal é garantir que tudo funcione on e offline, com ou sem luz, seja software ou hardware. É sempre mais barato manter do que reconstruir uma reputação. Às vezes, vale a pena investir em infraestrutura de TI para garantir a qualidade e a confiabilidade do sistema.
5. Segurança em segundo plano
Segurança de ponta a ponta é fundamental. Basta considerar o volume de informações sensíveis envolvido e as consequências de casos recentes de ciberataques. Se a segurança não for uma prioridade no projeto, é melhor recomeçar do zero para garantir a confiabilidade do serviço e a adoção de medidas de proteção que limitem os eventuais danos em caso de uma invasão por hackers.
A lista de boas práticas em cibersegurança é bem conhecida: abolição de senhas padrão, treinamento adequado dos usuários, atualização constante do firmware de dispositivos da rede, limitação do número de administradores, monitoramento de ameaças em dispositivos de acesso ao sistema e auditorias externas de segurança, entre outras medidas. Mas trata-se de um problema que requer atenção constante, uma vez que há sempre novas tecnologias – e golpes – surgindo no mercado.
6. Visão limitada de escala
Em última instância, o que importa em projetos de IoT são os dados capturados pelo sistema e o que é feito a partir deles. Por isso, a capacidade de prever a evolução dos volumes coletados e preparar o sistema adequadamente para recebê-los, armazená-los e processá-los ao longo de um período de meses ou anos é fundamental. Um dos problemas mais comuns em projetos de IoT é justamente a pouca atenção dada à questão.
As falhas de dimensionamento de tráfego de rede e/ou de armazenamento, e na escolha do que guardar, são comuns. Muitas empresas optam por manter tanto dados estruturados quanto não-estruturados. Mas, na maior parte dos casos, menos é mais. O que conta, de fato, é a consistência dos dados para facilitar sua análise.
7. Análise simplista de custo
O orçamento de projetos de IoT têm uma série de peculiaridades que não devem ser negligenciadas. O hardware é um dos elementos com maior potencial de variação. É preciso considerar, por exemplo, o número, o tipo e a tecnologia dos sensores e de outros equipamentos, o tipo e as características das aplicações embarcadas e a infraestrutura de conexão — wireless, middleware ou baseada em nuvem, entre outras configurações possíveis. Mas também a facilidade de uso, o consumo de energia e o tempo de treinamento das equipes que irão operar o sistema.
Nem sempre economizar centavos em cada dispositivo vale a pena. O que facilita todo o processo é investir em uma pesquisa aprofundada das opções de equipamentos disponíveis, em esforços de planejamento de cada etapa e em um bom design de interação, capaz de identificar características desnecessárias a boa usabilidade dos sistemas.
E, na outra ponta do orçamento, vale a pena ainda considerar custos de atualização e manutenção dos equipamentos e os ganhos que diferentes configurações do IoT poderão trazer na conta final.
8. Prazos irrealistas
São comuns casos em que, por falta de experiência, empresas estimam prazos muito longos ou curtos demais de implantação de projetos de IoT. No segundo caso, a estimativa costuma ser baseada no melhor cenário possível, para facilitar a aprovação. O ideal, para uma estimativa mais realista, é conversar com executivos de empresas que implementaram projetos similares ou com especialistas que possam ajudar no projeto.