Com a digitalização da economia vivida nos últimos anos, novas tecnologias foram desenvolvidas, softwares, sistemas e dispositivos surgiram, modelos de negócio foram criados, resultando em uma transformação completa de práticas comerciais, hábitos de consumo e métodos de gestão. O cenário também fez crescer a demanda por infraestruturas de TI cada vez mais amplas, complexas e híbridas nas empresas e organizações, capazes de lidar com imensas cargas de dados produzidas por estes ecossistemas conectados. Contudo, há um outro aspecto a ser considerado e que está intimamente ligado a este processo de transformação digital do mundo: a escassez de profissionais devidamente qualificados para atuarem na implantação e gerenciamento destas novas tecnologias.
A carência de talentos na indústria de TI para atender aos requisitos do mercado não é nova: há pelo menos uma década buscam-se maneiras de mitigar os seus reflexos. Entretanto, analistas do setor afirmam que esta situação crítica deve se intensificar a partir deste ano. O fenômeno já começa a afetar as estratégias de crescimento das companhias: sem mão de obra especializada e disponível, elas têm atrasado a modernização de processos e a adequação dos seus negócios à nova realidade digital.
Em 2021, cerca de 64% das tecnologias emergentes ficaram impedidas de serem adotadas pelas grandes companhias globais exatamente pela falta de profissionais adequados. São sistemas de inteligência artificial, plataformas de gestão e visualização de dados, arquiteturas de IoT, redes de edge computing e gerenciamento de multicloud cuja implantação foi interrompida ou postergada por não haver equipes preparadas para tal missão.
É o que demonstrou o relatório “The 2021-2023 Emerging Technologies Roadmap Survey for Large Enterprises”, publicado em setembro do ano passado pela consultoria Gartner. A pesquisa junto a 437 companhias multinacionais de diversos setores revelou que a indisponibilidade de ativos foi a principal barreira para a adoção de avanços tecnológicos relacionados à infraestrutura de TI, network, storage, database, ambientes digitais de trabalho, automação e segurança.
A falta de mão de obra adequada ficou à frente de questões como os custos de implantação (29%) e os riscos de segurança para o negócio (7%). Em 2020, a falta de profissionais foi indicada como problema apenas para 4% das tecnologias existentes.
O impulso do trabalho remoto e a corrida frenética de contratações em 2021, para suportar o boom online pós-pandemia, fizeram com que os profissionais de TI – em especial, aqueles capacitados para atuarem com cloud, edge e automação de processos a partir de IoT, machine learning e AI – se tornassem raros no mercado.
A habilidade com a análise de dados se tornou um dos atributos profissionais mais procurados no mercado nos últimos anos. Isso porque, com tantos devices conectados gerando dados, é fundamental para as companhias que tem no processamento dessas informações a sua missão mais crítica, contar com ativos contratados e aptos a interpretar e transformar bytes em insights valiosos.
Conforme artigo recente publicado pela consultoria Deloitte, o número de vagas no setor de tecnologia em 2020 que buscavam candidatos com experiência em análise de dados – incluindo machine learning, processamento de imagens e data science – foi superior àquelas com requisitos historicamente mais tradicionais, como engenharia, suporte ao cliente, marketing/PR e administração. Foi a segunda vez em quatro anos que esta condição é verificada.
Cenário nacional
O quadro internacional de falta de profissionais se repete no Brasil. Se, por um lado, observa-se uma abundância de empregos no setor de TI – foram 435 mil postos de trabalho na área apenas no estado de São Paulo em 2021, aumento de 727% em relação ao ano anterior (Fonte: Centro Paula Souza) –, por outro há um imenso desafio que precisa ser enfrentado para que essas vagas sejam preenchidas de forma efetiva.
Em outra análise, da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais), a média projetada de oferta de trabalho em TI para os próximos cinco anos no país será de 159 mil postos. Todavia, o sistema educacional brasileiro só consegue formar 53 mil profissionais relacionados a área no mesmo período – um gap de 106 mil vagas abertas e sem candidatos para ocupá-las.
A solução sugerida pela instituição é a implementação de um programa nas universidades públicas e particulares para incluir conteúdos regulares de tecnologia voltada ao TI e análise de dados nas grades curriculares dos cursos potencialmente relevantes para o setor, como é o caso da Engenharia, Ciências e Matemática. Mas este projeto ainda precisaria de aprofundamento para ser apresentado como proposta real.
O que as empresas podem fazer?
No artigo da Deloitte, os consultores indicam alguns caminhos para a mitigação do efeito negativo desta escassez de talentos no TI no aprimoramento de processos e desenvolvimento dos negócios. Dentre eles, destacam-se:
1. Avaliação do custo-benefício: as áreas envolvidas, os líderes de infraestrutura e operações e propriamente os CIOs devem avaliar se a contratação pretendida é absolutamente essencial para alcançar o objetivo traçado. Para muitos casos, já existem ferramentas tecnológicas disponíveis e inteligentes, como softwares ou plataformas AI based, perfeitamente capazes de realizar a tarefa e obter os mesmos resultados sem a atuação humana no processo.
2. Recapacitação: Os líderes e CIOs podem buscar e identificar nos times internos quem seriam os profissionais aptos a serem treinados a fim de adquirirem as novas skills necessárias para os projetos alinhados às demandas mais atuais.
3. Parceiros estratégicos: implementar um plano de aproximação e relacionamento com startups, incubadoras, aceleradoras e universidades, visando captar jovens profissionais já habilitados e familiarizados com as tecnologias mais emergentes.
Entretanto, é preciso observar que todas estas estratégias demandam médio ou longo prazo para conseguirem chegar ao resultado almejado. E tempo é tudo o que não se tem de sobra nas empresas, neste momento de transição offline-online e de competitividade acirrada. Aguardar por períodos de treinamento dos times ou a formação de profissionais incubados para, só então, pôr em prática a implantação de soluções de alta performance tecnológica não é, nem de perto, a tática mais assertiva a ser escolhida.
Um outro caminho seria a terceirização da operação da infraestrutura de TI. Investir na contratação de fornecedoras especializadas em serviços de tecnologia, habilitadas a oferecer profissionais mais experientes e atualizados, encarregados de dar mais eficiência, segurança e disponibilidade para infraestrutura e demais ecossistemas de dados, pode ser a alternativa com mais vantagens para as empresas vencerem o desafio da escassez de talentos e manter o ritmo da transformação dos negócios.
Essa é uma percepção que vem crescendo junto aos CIOs e líderes de I&O das companhias. É o que revela o relatório “Worldwide IT Spending 2022”, produzido pela Gartner a partir de informações obtidas junto a multinacionais de todo o mundo. Publicado em janeiro, o documento prevê investimentos de US$ 1,3 trilhão em serviços de TI para este ano, incluindo a contratação destas agências de terceirização da gestão do TI. Este montante é cerca de 8% maior do que no ano anterior e, segundo os analistas que assinam o estudo, deve se manter em crescimento constante até 2025.
O crescimento do interesse por endereçar a gestão do TI a empresas externas especializadas é justificado por diversos aspectos e respaldado por benefícios claros. Do concreto, a implementação desta estratégia, que atua no campo lógico e físico da infraestrutura, possibilita:
– Solucionar o problema da defasagem técnica das equipes internas e a escassez de profissionais disponíveis no mercado;
– Unificar o gerenciamento do ambiente de missão crítica, elevando a eficiência e a performance da operação;
– Liquidar com os prazos que seriam necessários para a formação de novos profissionais;
– Liberar os CIOs para destinarem maior foco nos projetos de longo prazo de suas empresas, deixando as rotinas diárias do TI a cargo destes parceiros de serviços.
Com a aceleração da transformação digital e o surgimento frequente de novas tecnologias, encontrar e reter talentos capazes de acompanhar a velocidade dessa mudança é um dos maiores desafios para as empresas de TI em 2022. Uma missão que precisa ser cumprida no mais curto prazo possível e com a ajuda de todos os recursos à disposição, estejam eles dentro ou fora das empresas.